segunda-feira, 27 de setembro de 2010

"Todo mundo de repente ficou lindo, lindo de morrer"

Para uma Menina com uma Flor

"Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai,
eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino,
o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde,
tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras.
E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua D.D.C. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar.
E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor,
se vestindo parecido.
E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca.
E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho.
E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas.
E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara na Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando.
E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris;
fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena;
é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha - a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.
E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor." (Vinicius de Moraes).

Isso é que é lindo e faz vários sorrisos...

Camila

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Não eram meus, não era sua.

Me dei conta que matei e, sobretudo, enterrei algumas pessoas, alguns momentos, alguns cheiros, uma parte da minha vida que me pareceu estranha, de outra pessoa.
Me senti como uma estranha contando uma história pouco conhecida, lembrando tempos que não são meus, forçando muito pra lembrar o que veio depois e quem foi embora antes.
Não sei o que eu sentia, o porquê das flores, não reconheço os perfumes,não lembro dos sorrisos e das lágrimas minhas, deles, nem minhas por eles.
Consciência de que foi importante eu tenho, foi de primeira mão, foi novidade, descoberta, foram paixões, foi primeiro, segundo, terceiro, quarta e quinta, todo dia.
Teve intensidade, eu sei, teve tudo que deveria, e não, ter. Lembro que ria, não sei de quê, lembro que gostava do que não existe mais, lembro de algumas estrelas e um esquimó romântico, só faltou ter amor pra lembrar.
Quando eu conto, me sinto mentindo ou criando. Mas não! Foi mesmo comigo. Eu fui tão decidida nesse meu passado estranho (e não tão distante) que simplesmente não perdoei traições e mentiras, não quis cuidar de ninguém, não quis cair em tentação nenhuma vez, eu só quis seguir. Só me surpreendo, hoje, por perceber o quanto fui forte e quão rápido foi o processo. Não que eu tenha riscado ou passado uma borracha, eu rasguei em pedacinhos o papel inteiro, joguei longe, mandei embora. Nunca mais vi, nunca mais perguntei por, não lembrei, não chorei pela falta, não pensei em ligar, não reconheci mais nada, não senti e nem lembrei do que havia sentido. Eu exclui, eu enterrei, eu segui, ficou pra trás. Sem saudade, sem muitas lembranças, sem nada.
Quem, hoje, conta essas lembranças meio velhas e ultrapassadas, é menos forte e decidida, talvez seja porque agora existe amor e pode ser que ele enfraqueça. Talvez por amor é que existe perdão, lágrimas, sorrisos, e perfumes reconhecidos de longe. Pode ser que esteja mais fraca, mas acho que futuramente, vou lembrar do porquê da falta de flores, vou lembrar que não havia nenhum esquimó e muito menos romântico, talvez eu me lembre o motivo de cada coisa que eu faço, talvez eu me sinta personagem dessa história e não rasgue todas as folhas.
Preciso lembrar como é ser forte, lembrar do amor eu não preciso. Só pra saber se o bom é seguir, sem amor e com certeza, ou esperar, com dúvidas e um amor como companheiro.

Camila

sábado, 18 de setembro de 2010

não tem lugar

"O meu mundo não é como o dos outros,
quero demais, exijo demais;
há em mim uma sede de infinito,
uma angústia constante que eu nem mesma compreendo,
pois estou longe de ser uma pessoa;
sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê"


tem dias que eu não tenho lugar, que nada parece estar certo, tem dias que nada é meu!
e hoje é assim: estou aqui e em todos os outros lugares, não estou em nenhum. De jeito nenhum.
não tem lugar pra mim no mundo hoje,nem lugar em mim pra ninguém.
é questão de encaixe, um dia dá certo, outro não. É a vida,né!? É ter saudade do que sabe e do que nem imagina...

Camila

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Pequena

Reparando bem, nada faz sentido na vida. Nem a própria vida faz.
Acredito que em um ou outro momento todos percebemos que é assim,e às vezes uma aula maravilhosa nos faz lembrar do que é evidente.
Todo mundo vive meio que no escuro, tudo é mais ou menos de surpresa, tudo que a gente espera é alguma coisa que nem conhece e nem sabe se vem, não sabe de onde vem,a gente não sabe nem porque quer. É tudo puro mistério.
Eu facilmente enlouqueceria se sempre pensasse pra que comer, porque amar, trabalhar, limpar, sujar, rir e chorar, porque transar, brigar, odiar e esperar, porque planejar, lavar,respirar, porque respirar?
Talvez o bom da vida seja exatamente esse não saber, talvez bom seja arriscar o que tem e o que nem pensa em ter, vai ver nem era pra ter sentido. E não tem.
Ninguém explica a vida, nem a morte, nem o que acontece entre as duas. Não se explica, não entende, não sabe, não prevê, não aceita.
Talvez eu só venha a entender no fim, e tudo comece a ter um pouco de sentido pra mim, enquanto pra alguns é exatamente por isso que vai ser ainda mais sem sentido.
Começa pra uns, termina pra outros. Mas não há quem não fique no escuro, tentando saber um pouco mais, tentando sentir um pouco mais, tentando ter olhos um pouco maiores. Diante de tanto mistério só dá pra saber o quão pequenos somos todos. Pequena, pouco e quase nada. Não por nada, não por tristeza nenhuma, não por saudade, não por amor, não por dor, não por mim, nem por você. Só sou pequena por ser, sem saber, só por ser pequena e ser eu. E por não ter sentido.

Camila

domingo, 5 de setembro de 2010

Estava em paz quando você chegou...

De fato estava. Eu precisava dela, daquele tempo tão bom de completo sossego e desprendimento, longe de todo amor e ódio, de qualquer beijo e qualquer briga. Era paz, estava em paz. Passou, a paz passou e chegou você. Chegou o amor, o primeiro, chegou pra me fazer enlouquecer, pra me fazer perder o que eu não tinha, chegou pra me fazer ganhar o que poucos têm.
Veio rápido, no primeiro dia do começo de novos tempos, passou por todos os outros dias que vieram, eu quero que passe por todos os outros que eu também passar.
Tudo bem, eu nego e afirmo todo dia. Digo não, digo sim e talvez, digo que não entendo você e sua mania de não estar comigo, depois eu entendo essa mania e as outras. Só que no fim das contas não entendo nenhuma, nem minha, nem sua.
Muita coisa é mesmo capaz de mudar, eu abri mão da minha paz por você, abri mão do sossego e decidi enlouquecer, decidi esperar, não esperar, decidi brigar, ligar, amar, decidi te ler, te ver, te entender, te odiar, te querer e querer te matar. Decidi sentir sua falta, roer as unhas por você, gostar do seu sorriso, amar o seu cheiro. Decidi fugir de mim pra fugir de você, estive ausente do mundo e de mim. Por você e com você já dormi tão bem e tão mal, sem você já dormi, não dormi, já chorei, mas também já ri tanto, já exclui você da minha vida sem te contar e dois minutos depois implorei a mim mesma pra voltar atrás.
Não é que eu tenha sempre sido assim, é por você que eu sou essa maluca com vontade de te trancar e esconder só pra mim, é porque você é tão lindo e perfeito, porque você é tão chato e me irrita, porque você é tão meu e não é, é porque eu desisto e insisto.
Porque eu queria ter e ser você, pra entender o que ainda não dá, pra saber porque eu te amo tanto, pra saber porque eu quero você dentro e fora, perto e longe, pra saber porque é tão ruim sem você, porque com você é sem paz e tão bom. Queria aprender o que você sabe, sentir o que sente você, sorrir com o seu sorriso e beijar a boca que não é minha pra sempre, queria ver com os seus olhos, e saber por que os meus olham com tanto encanto, porque sempre te procuram em todo canto, porque eu tenho cara de boba pra você. Não adiantaria nada disso, é verdade. Não vou nunca entender nada, não vou nunca desvendar nem metade de tudo, não vou saber resposta nenhuma, não vou não querer você.
Quando tem paz é tudo calminho, é tudo certinho, bonitinho. Quando tem você é tudo intenso, avassalador, quente, inconstante, confuso, é tudo incerto, é bonito e não é.
Quando eu desligo o telefone, paro de ouvir sua voz e começo a ouvir a minha, e vejo que tudo está em paz eu percebo o quanto eu amo você, cada parte sua. É por isso que eu preciso ligar de novo, ouvir de novo a sua voz, contar o que disse a minha, fazer cara de boba, sentir a paz indo embora e você chegando.
Eu vou te odiar algumas vezes ainda, principalmente quando a saudade for maior que eu, mas eu amo tanto, tanto, tanto, tanto, tanto. É maior que o ódio, que a paz, que o sossego, que a saudade, que os medos e as perguntas.
Trancaria você mesmo, só pra te olhar dormindo.

Camila

preciso parar de dormir pra sonhar menos

eu acho que essa é a única solução pra eu parar de ter sonhos malucos.
Vi e eu temos tanto, mas tanto medo de recebermos no nosso aniversário aqueles carros que falam mensagens,sabe?!E eu sonhei hoje com esse negócio. Bem, é melhor ninguém fazer isso pra mim, mesmo. Não iria perdoar. Mas Vi, já entrei em contato com pessoas que fazem isso em Pira, tenho certeza que esse é um daqueles 'sonhos-sinais',sabe?
Antes disso(e sem auto-falantes) só é pra você saber que eu sei,mais que ninguém,o quanto do meu lado você anda e está. Mesmo que achem que eu tenho problema e que você está reclamando pela minha comida é bom que me confudam com você, pra ser sincera eu também confundo às vezes. Porque é mesmo quase a mesma coisa. Porque é mesmo bom compartilhar sonhos(sonhados enquanto estou acordada ou dormindo) com você e porque dói não ser sempre como você merece. Mas por amor eu tento,sempre tento!
Fifian, quero que chegue logo 17 de janeiro, porque vai ser muito legal te acordar gritando.(não precisa retribuir,tá?beijos =D)

Camila

sábado, 4 de setembro de 2010

um pouco de leveza

É difícil entender sentimentos,não é!? É tão complicado entender porque eu rio tanto,choro tanto, porque eu sou tão feliz e tão triste,porque sou tão inconstante!?
Não é fácil entender porque eu tenho tanto medo.
Medo de mim, dos meus instintos, dos meus desejos incontidos, dos meus atos impensados, da minha consciência que não me condena e se condena por não condenar.
Da culpa que eu não sinto, da vontade que não vai embora, medo dos outros, de mim, de nós todos. Da tpm com frustrações que me faz descontar grosserias em quem mais amo no mundo, medo da minha falta de controle nessas horas, da falta de noção pra perceber limites, pra perceber que mesmo o que não é feito por mal tem consequências.
Medo de acreditar, de não me conhecer, de não saber se é por amor ou por falta de. Pensar dói, dói nem sei onde. Porque quem questiona como eu tenho feito, quer respostas e eu não as tenho. Nenhuma,nem a mais simples delas. Só um cansaço enorme por não saber, por ser pouco convicta, por escrever sete finais diferentes pra mesma história, mesmo sabendo que a oitava opção,bem aquela que não conheço, é que vai se revelar no fim das contas.
Talvez eu precise de um pouco de leveza,de um pouco mais de calma, paciência, de menos medo, de menos noites mal dormidas, de menos confusão.
Porque tirando esses medos momentâneos, não sobra espaço pra nada ruim. Tem muito sorriso aqui também. O problema é que eu vivo numa velocidade maior do que deveria, eu quero saber como vai ser semana que vem e esqueço de prestar atenção em como hoje está sendo. Tudo culpa desse medo besta e adolescente. Tudo culpa dessa velha e boa mania de querer tudo aqui e agora, tudo culpa desse cheiro de chuva que eu tô sentindo. Faz lembrar tanta coisa que foi e não é,que era pra ser e não foi, tanta coisa que ainda não é e eu já sei.
Porque será que quando há sol e calor não sinto saudade de nada?!

Camila

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Reflexos de um dia incomum

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
(Vinícius de Morais)


É assim que as coisas acontecem. De repente.
Você acorda em um dia que deveria ser comum, mas não é. O sorriso aparece mais fácil, os olhos inchados são só o reflexo de uma noite ruim, antes do de repente.
O medo é menor, a tristeza que era profunda já é superficial, antes não via luz alguma, agora é tudo muito claro. Tinha certa resistência em rasgar papéis, cartas, bilhetes e fotos, agora ver os pedaços disso não dói, nem incomoda tanto, nada incomoda tanto.
Tudo parece mais leve, menos cansativo, tudo parece possível. Parece assim porque é, e é muito bom acordar nesse dia incomum e perceber que não se pode perder tempo, que ninguém merece passar mais de cinco minutos sem sorrir.
As músicas que tentava evitar, quer ouvir mil vezes, ainda chora ou sorri por algumas, mas consegue. Consegue isso e muito mais, usar os perfumes, ver tudo, ler tudo, ouvir tudo, lembrar tudo, pensar tudo, planejar tudo, sonhar tudo, consegue tudo.
Antes achava que o mundo não mudava, que estava estagnado e que só andaria devagarinho, quase parando. Mas não, o mundo e tudo o mais muda, a vida gira, dá voltas, tudo e todos podem mudar, tudo pode acabar, começar, voltar e ir pra sempre e isso pode acontecer assim...de repente.
Não há nenhuma separação, só a certeza que de uma hora pra outra tudo é capaz de não ser mais igual. Do mesmo modo que do riso faz-se o pranto, do pranto faz-se o riso, e é bem melhor olhar por essa perspectiva. Como nada é definitivo, tudo é assim só por hoje, pode até ser um começo ou só o reflexo de um dia incomum.

Camila