domingo, 6 de março de 2011

A dor e a delícia

Tenho vivido como se meu corpo fosse todo feito de estômago e eu tivesse morrendo de fome todo tempo. Um vazio profundo por todas as partes e em inúmeros momentos, na solidão ou na multidão.
E aí? E aí sou eu que pergunto. Como será que faz pra sair disso? O que será que falta, quando parece que já tem tudo. Porque pensar na minha vida, nos meus supostos problemas, na minha merda de vontade que nunca é satisfeita, me deixa tão triste, triste, triste e triste. E eu já to cansada de disfarçar essa fome e ninguém mais acredita que eu não sinta. Tá tão nítido, qualquer um percebe, até eu mesma percebi.
Tem mil pessoas falando por mim, pra mim, de mim, de você e me deixando maluca. Maluca, sabia? Porque o problema não é mais acreditar, saber, querer, odiar ou amar. O problema é bem mais embaixo, queridos, o problema é que mesmo que eu saiba o que eu preciso, e olha que eu não sei, eu não tô sabendo fazer. Eu não sei, ué. Será que era pra eu ter vergonha disso?
Mas eu já tenho tanta coisa, não tem espaço pra ficar sentindo vergonha como uma virgem de quinze anos. Eu nem tenho mais quinze anos, tô quase chegando aos vinte e dois e aqui: perdida nessa vida e nesse mundo e nesses sentimentos e em mim, principalmente em mim.
Tenho infinitos e infinitos momentos cheios da mais perfeita consciência e de prazer, de libertação, de alegria, de paixão, de certeza, de desprendimento e de paz, muita paz. Entretanto, há outros infinitos momentos de perturbação, inquietação, medo, angústia, ansiedade, nos quais eu me sinto uma, praticamente, fugitiva. De mim, das minhas atitudes, do que eu ouço, vejo e de tudo que eu preciso fazer. Fujo, literalmente até, pensando que assim posso me manter segura. Só que eu estou em mim, né?! E daqui eu não saio, moro sozinha e acompanhada, por todos esses infinitos, infinitos e infinitos sentimentos.
É lógico que eu sei que é um desperdício, que eu devia agradecer mais e dar um jeito na vida, ficar mais feliz do que triste e tudo mais, você já falou e eu mesma sei, o problema aqui não é lucidez. Lúcida eu, ainda, tô, saber eu sei, e também acho insustentável.
Ainda não é hoje que a minha fome vai passar, eu tô comendo a coisa errada e não tô encontrando a certa pra vender.
Só que quem sabe uma hora dessas, sem muito procurar, sem muita esperança, eu me deixe preencher, não é?
Já fiz isso algumas vezes e, espero e acredito, ainda lembro o sabor.

Camila

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