E a vida fica assim: como toda quarta-feira de cinzas.
O céu fica cinza, o chão nem existe, as portas se fecham, as janelas, violentas, batem, do futuro não se espera, o presente machuca e o passado acolhe, me escolhe e chama.
Ausência que dói, que sufoca, que para o mundo, o tempo, que escurece todo aquele colorido. Deixa uma nuvem, bem aqui, no coração.
Meu carnaval acabou sem querer, por obrigação, sabe? Por falta de samba, justo quando eu tinha uma orquestra toda em mim, justo quando eu só queria viver e morrer ouvindo essa música.
Talvez uma melodia gostosa comece a tocar, quem sabe...Não igual, nunca igual. Essa letra era a forma perfeita pra mim, pra mim e só pra mim. Perfeita e cheia de erros e castigos e pecados e dor e prazer, dor com prazer.
Agora que acabou, tô preparando meu ouvido pra gostar do que não quer e pra esquecer o quanto aquele som é que era o bom. O quanto aquele era o som ruim.
Por enquanto, antes de acreditar de novo, de querer de novo, de viver de novo, vou tirar as máscaras, jogar todas no lixo, vou lavar o rosto, trocar as roupas de festa, vou colocar as minhas de novo e lembrar, tentar lembrar, procurar por mim, perdida aqui, no que ainda sobra de você. Vou me desfazer das fantasias que já não servem mais, por conhecer de outros carnavais, não participo dos próximos.
O buraco vai fechar e eu vou entender que esse carnaval começou no dia errado, fadado a acabar, a música tocou ao contrário, a quarta-feira chegou mais cedo, chegou mais tarde. Escureceu tudo ao redor, anunciou, assustou, libertou e foi embora, como muita coisa tem ido.
Camila
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